Não vemos nenhum mal neste homem. (At 23.9c)
Por mais que o Sinédrio desejasse condenar o apóstolo, por mais que os judeus da Ásia seguissem os seus passos, por mais que a multidão a uma voz dissesse que Paulo não merecia viver — o fato é que pelo menos os fariseus não enxergaram nenhum mal nele. Mais uma vez dá para ver outro paralelo entre Paulo e Jesus Cristo. Depois de ouvir o Senhor, Pilatos declarou à multidão: “Não vejo nenhum motivo para condenar este homem” (Jo 18.38). Setecentos anos antes já se dizia que Jesus seria expulso do mundo dos vivos, “embora nunca tivesse cometido crime nenhum nem tivesse dito uma só mentira” (Is 53.9). Jesus e Paulo, dois homens transparentes e inocentes. Mas esses julgamentos não livraram Jesus da cruz nem Paulo da cadeia.
A discussão continuou, os gritos cada vez mais altos continuaram e a briga entre os saduceus e os fariseus por causa de Paulo chegou a tal ponto, “que o comandante ficou com medo de que Paulo fosse despedaçado por eles” (23.10). Crucifica-se, enforca-se, apedreja-se, fuzila-se, envenena-se, queima-se, afoga-se, coloca-se o condenado na cadeira elétrica, mas não é necessário matá-lo por despedaçamento! O verbo é muito forte e é isso que o original diz. Algumas poucas versões não usam exatamente o verbo “despedaçar”, mas falam a mesma coisa por usar os verbos sinônimos: espedaçar e estraçalhar. Todos eles significam partir ou rasgar em pedaços. O que eles deveriam fazer era rasgar as suas vestes ou, melhor ainda, rasgar o coração, em sinal de arrependimento, como diz o profeta Joel (Jl 2.13).
Retirado de Refeições Diárias – no partir do pão e na oração [Elben César]. Editora Ultimato.
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