Trata com bondade o teu servo para que eu viva e obedeça à tua palavra. (Sl 119.17)
Parece atrevimento, mas não é. O salmista está fazendo uso do direito de súplica (Mt 7.7), do direito de se aproximar do trono da graça com toda a confiança, a fim de receber misericórdia e encontrar graça que o ajude a sobreviver (Hb 4.16). Em outras palavras, o poeta está fazendo a oração que todo mundo faz ou deveria fazer: “Tem misericórdia de mim”. Se Deus tratasse o salmista com braveza, ele não continuaria vivo.
Se Deus tratasse o salmista com severidade, ele estaria perdido. Se Deus não fizesse uso de suas misericórdias, o salmista seria consumido. Se o único escape é a bondade de Deus, a oração do salmista é absolutamente apropriada: “Trata com bondade o teu servo para que eu viva” (Sl 119.17).
Sem a bondade de Deus, o que seria de Arão depois do bezerro de ouro (Êx 32.1-4)? O que seria de Davi depois do adultério e do assassinato de Urias? O que seria de Pedro depois da tríplice negação? O que seria de nós depois de qualquer ato de rebeldia, depois de qualquer atitude de incredulidade, depois de qualquer sentimento de ingratidão, depois de qualquer escândalo?
Tanto faz orar como o salmista — “Trata com bondade o teu servo” — ou como o filho pródigo — “Pai, não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados” (Lc 15.19). No fundo, a oração é a mesma. Ambas confessam a absoluta falta de méritos pessoais para negociar o perdão de Deus. Ambas expressam a absoluta dependência da graça, do favor, do amor, da bondade de Deus, sem os quais o perdão é impossível.
Retirado de Refeições Diárias com o Sabor dos Salmos [Elben César]. Editora Ultimato.
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